quinta-feira, 16 de agosto de 2012

À lápis

Penso que nunca contei. Mas a verdade é que escrevo a minha história sempre à lápis. Não consigo confiar na caneta. Ela parece-me tão definitiva, tão imutável! E quero que a minha história seja como um rio. Sempre águas diferentes. Outras águas. Entretanto não penses, meu mais querido entre todos os outros e, ainda assim, inomenável senhor, que a minha história escrevo à lápis para mais tarde apagar supostos erros e desvirtuações. Não. Os erros eu não apago. Antes, risco-nos com meu lápis. Faço tal coisa a fim de não tornar a lê-los constantemente e, com isso, perder o foco, deixar de lado o tanto que ainda tenho a escrever sobre a minha história. E não apago-nos pois não quero iludir-me de que os erros não ocorreram. Quero rememorar que erro sim. Sempre. Erras tu também, não é verdade? E sabes, meu mui estimado senhor, o que gosto em especial? Gosto quando partes da tua história misturam-se a minha. Gosto quando histórias tuas são minhas. Gosto quando histórias minhas são tuas. E bem sabemos, também escreves histórias. E o fazes tão bem! As tuas histórias são as mais perfeitas histórias que já li, senti, vivi. Hão-de dizer que foi o amor quem agora falou. E tu, sempre tão descrente, hás-de sugerir que tudo não passa de encantamento. Insto-te apenas, meu bem, que leias todas as minhas histórias. Se assim fizeres, saberás que engana-te. Não notaste que estás em todas as minhas orações? Carrego tanto de ti em mim! Ficção, vida real, sempre presente. Preciso despedir-me. O lápis apressa-me. Quer continuar a correr e correr sobre o papel. Sempre travesso. Sempre instintivo. Sempre suave. Mas antes, peço-te: escreves comigo um dia? Talvez o final da história. Talvez o começo. À lápis.

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