segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Entre frascos e bagagens

Nos meus lábios oclusões violentam os ouvidos teus. Coisas que só se vê quando os olhos se fecham. Olhos ateus. Os olhos são teus. A porta sempre se fecha no fim do dia. As feridas se abrem no fim da linha. Abrir e fechar. Fechar e abrir. Vivo em terra aonde até os fracos tem vez. Os fracos e seus frascos. Os frascos fechados. Meus frascos abertos. O pulsar já tão distante quanto a lua. A lua. Nua, desdobro-me. Redobro-me. Recordo-me. O corpo é agora pretérito mais-que-perfeito. A alma sempre fora o imperfeito. Abandono-me pela minha incapacidade em abraçar-te. A bagagem. A bagagem dobrou de volume. A bagagem tem mais vida que queixume. Fiz do meu abandono um reencontro. Reencontrei. Reconheci minha face no espelho. Para cada vírgula no meu caminho, imaginei um segredo cifrado. E todas as minhas esfinges não passavam de enganos interpretativos. Olhei meus olhos no espelho. Já não faz sempre mau tempo. Quantas tempestades tu roubaste do meu peito? Em tempo de recomeços, recomeço minha história da ponta ocre perdida no caderno escondido na mala cinzenta guardada debaixo da cama. Um dia tudo era precipício. No outro, tudo foi precipitação. Será que descobrimos um novo capítulo nos manuscritos do nosso autor? Em tempo de reencontros, reencontro uma parte perdida daquilo que hei-de ser. Deixo os frascos para os fracos.