segunda-feira, 21 de maio de 2012

O mar e seus desejos

Resolvi dar as costas mar. Sua poesia já não me encantava.Abri meus olhos, parei de sonhar. Como as ondas eu regressara. Parti sem um rumo certo ter. Não escolhi qualquer destino. Fugia daquele que era o meu desatino. O vento forte guiou-me ao deserto. Através das areias quentes vaguei. Por entre dunas e rochedos andei. Mas minhas entranhas ainda recordavam do perfume que escondia-se sob teu olhar perverso. E será que fomos mais do que palavras derramadas? E a cada passo que dava, o vento apagava as minhas pegadas. E entardeceu. Entardecemos. E agora, o que restava-nos se nem o sol mais tínhamos? E o que eu lembrava-me eram pedaços do cheiro do mar. E acredite-me, a estas lembranças entrelaçavam-se fragmentos teus. E quanto mais longe eu sentia-me do oceano, mais alta era a sua canção. E toda aquela areia a minha volta a enlouquecer-me... E o mar tão longe! Tão perto! E a chuva eu esperava. E a chuva nunca chegava. E as vozes suplicavam-me pelo mar. E eu rendi-me. Fraquejei. Voltei. E entreguei-me ao mar. E dilui-me. E o mar tragou-me. E tu nem reparastes. E não existo mais. E eu existo, aliás. O mar sou eu e eu sou o mar.

sábado, 12 de maio de 2012

Às margens do tempo

Gelam-me as mãos e os pés. Gela a minha alma. E começa a aquecer o tempo. E nós, temos mais tempo? Não temos tempo. O nosso tempo acabou. O nosso tempo nunca foi.E não entendo esta minha mania de tocar no passado. De lamentar o passado. De respirar o passado. Para a eternidade será ele o meu mal resolvido assunto. E todas as outras histórias que tento tecer no meu tapete acabam por enlaçar-se nesta história antiga. Tempo. Qual tempo foi nosso tempo? É pena o nosso tempo não ser o mesmo tempo. És passado? És futuro? Presente não és. Isto sei. Será que nunca presente serás? E por vezes nossos diferentes tempos entrelaçam-se. E confundem-se. E perco-me. Mas meu destino são águas de um rio que flui para o mar. E meu presente, por ora, é a terra, esta terra. E o tempo? Qual tempo? Não sei que tempo é o nosso tempo. Só sei que foi teu fluir calmo e constante que avassalou-me. Todos os meus segredos, tuas correntes os levam. És presente. O nosso tempo é agora. Mas nosso tempo não demora. E o silêncio. Por que foi que desaprendemos a ouvir o som do nada? Teu silêncio é um tormento. Tua mudez desconcerta-me. Desalinha-me. E acalma-me. E o tempo? Muda o tempo. Este é nosso tempo? Chove. E permaneço às margens de ti.