quinta-feira, 30 de junho de 2011

Esses Homens!?!

Pobres homens! O mundo está a avançar mas parece que eles não conseguem se atualizar. Queridinhos, aviso: nós, mulheres, já não somos as tolas e bobas de outrora. Abandonamos por completo nossa função de capacho humano. Nossa espécie adaptou-se e evoluiu!
Não é que sejamos demônios de rímel e salto alto como creem alguns, mas aprendemos que o segredo para se ser valorizada é, acima de tudo, valorizar-se. Aprendemos também que racionalizar tudo é besteira. A vida foi feita para ser vivida e não explicada.
Mas parece que certos homens não entendem, ainda vivem à margem da contemporaneidade. Só para começo de conversa, os homens tem a estranha mania de achar que, se levarem uma mulher para cama, ela acabará se apaixonando, acham que seus pintinhos são varinhas mágicas capazes de transformar tesão em amor. Hello!?! Homens, se liguem: não é só porque a montanha-russa foi divertida que hei de a instalar em minha casa! Há muito se foi o tempo em que mulher não sabia dissociar sexo de amor.
Outra das "ideiazinhas" masculinas e achar que toda mulher quer se casar. Meus amores, casamento para quê? Não é que eu seja contra relacionamentos ou algo assim, mas hoje em dia, nós ficamos com um cara porque queremos estar com ele e não porque precisamos . E quando digo que não mais precisamos, não falo só economicamente, mas também na esfera afetiva. Algemas, quer dizer, alianças, são inteiramente desnecessárias. Não era isso que os homens queriam? Desde criança tenho ouvido aquele velho discurso masculino de que já não suportam muheres pegajosas, emocionalmente dependentes e Blá! Blá! Blá! Pronto, está feito, conseguiram.
Contudo, parece que o homem não consegue lidar com isso. Acho que pensam: "se ela não precisa de mim, como a conquistarei?". Digo-lhes: é aí que está mágica. Se apesar da não necessidade uma mulher escolhe estar com um cara, é porque, no mínimo ele a atrai. Não é muito melhor assim? Nada de joguinhos, dilemas, crises, etc. Mas não, o homem tem arranjar ideia e inventar alguma zica. Pura incapacidade de lidar com as mudanças. Crianças, adaptem-se, evoluam ou se extinguirão! Já é fato: homem só é necessário para abrir vidro de palmito! É bom que sejam criativos e pensem em formas diferentes de se tornarem indispensáveis.
A coisa anda tão diferente, que tenho uma teoria de que o homem de hoje é a mocinha de antigamente. Estão, só para começar, cada vez mais vaidosos, sentem uma necessidade tamanha em aparecer, expor suas figuras. Deram para bancar os sentimentais. "Porque você falou assim comigo e me magoou", "Você não falou comigo no dia seguinte", "Você me olhou com desprezo" e coisas do tipo. É uma frescurada tamanha.
Conclusão do assunto: homens não sabem o que querem. Exato, amigas, eles passaram séculos aprlicando esta afirmativa à nós, mulheres, e agora estão nessa. Eu não entendo mais nada e nem sei se quero entender. Façamos o que aprendemos com eles: nos divertimos um pouco e, quando não mais o suportarmos, desligamos o celular.

Epitáfio

Não sou do tipo suicida, mas às vezes penso em morrer. Vontade que dá e passa. Vontade de morrer, mas só um pouquinho, só para sentir como é não sentir. De qualquer forma, ainda não estou pronta para a morte definitiva.Antes de morrer, quero escrever o que será lido em minha lápide.
Entretanto, o que poderia dizer sobre mim?
Sou sagitariana e florbeliana. Sou todas essas Anas possíveis e impossíveis que existem e subexistem dentro de mim. Às vezes sou Pedro também, quando luto contra lágrimas, quando pego o botijão de gás, quando chego em casa no último ônibus, a última passageira.
E as Anas? As Anas são muitas, todas elas se amando e se odiando, entre a sombra e a luz. Tenho a Santa Ana, a mais chata de todas as Anas, que insiste em acreditar que tudo pode dar certo e ama incondicionalmente. Esta Ana tem o vil defeito de julgar os atos humanos, inclusive os seus. É esta que acredita que de fato deve existir Deus em algum lugar na imensidão do Universo.
Existe a Ana aventureira que sonha com uma paixão avassaladora por um arqueólogo que a faça ganhar o mundo e conhecê-lo assim como conhece seu rosto refletido no espelho.
A Ana vaidosa tem sobrevivido, embora não saia muito de casa atualmente. Essa Ana adora pintar as unhas e sabe que a calcinha que se usa com uma calça jeans é muito diferente da que usa-se com um vestido de malha. E por falar em calcinha, existe até uma Ana bacante que é uma Ana que poucos mui bem escolhidos viram se revelar. Esta Ana sabe que só se vive uma vez e, por isso, quer vivenciar tudo em cada célula, em cada pequena fibra do seu corpo e da sua alma.
E há também, não nos esqueçamos, a Ana sonhadora que é a pior de todas as Anas. É esta Ana que se crê escritora e tem a estranha mania de poetar. É a Ana que se apaixona e se ilude. É a Ana que está constantemente a esperar por algo que seja tão maravilhoso, tão perfeito que rompa com a lógica da Ana estatística . Esta, aliás, sabe que tem 99% de chance de escolher o cara errado para assenhorar-se de seu coração e que, mesmo se decidisse nunca mais sair de casa, teria 65% de chance de morrer antes dos trinta anos, morte que poderia variar desde um ataque cardíaco até uma explosão causada por um desastre de avião no seu quintal.
São muitas Anas e eu sou todas elas, que se manifestam juntas e separadas, em conjunção ou disjunção. Sou apenas mais uma mulher. Não paro o vento nem sei quantas estrelass há no céu. Para falar a verdade, eu sequer aprendi a assoviar. Não sou nada genial, não tenho um olhar fatal. Quando eu passo, não paro a rua. Não aprisiono corações, mas também não permito que aprisionem o meu. Não espero mais por milagres, acho que nem a Santa Ana. Não volto para ex-amores.Não me conformo em assistir um filme apenas uma vez.Tenho fobia de borboletas. Às vezes choro sem saber porquê. Não acredito em amor à primeira vista. Às vezes falo sem saber o que dizer, o que é um péssimo defeito, eu sei. Sou apaixonada pelo cheiro de terra molhada e vou contar um segredo: não penteio o cabelo todos os dias. Fico entediada no inverno. Muito entediada.
É, pensando bem, eu até corro atrás do vento de vez em quando. E conto as estrelas.
E o epitáfio? Não dá para escrever tudo isso no meu túmulo. Mas eu sou tudo isso. E muito mais. Não somos todos nós, paradoxalmente únicos e vários ao mesmo tempo? É, de fato, preciso de mais algum tempo para descobrir como posso me definir em tamanho suficiente para a inscrição num túmulo.
Enfim, sou sagitariana e florbeliana. Sou todas essas Anas possíveis e impossíveis que existem e subexistem dentro de mim.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Os violinos orgásmicos de Vivaldi

Senhores críticos de música que venham, quem sabe algum dia, a ler o que estou a escrever, perdoem-me, por favor. Sou apenas uma inocente cronista que, paralelamente adora música clássica, mas que desconhece toda e qualquer parte técnica do assunto. Tudo o que posso dizer, e direi, basea-se nas sensações que me causam a música, nas ideias a que me remetem.
Caminhemos, entretanto ao nosso assunto: o leitor já teve o prazer de apreciar "As quatro estações" de Vivaldi? Ao menos os movimentos de "Primavera" deves conhecer devido a um comercial duma famosa marca de sabonete cujo nome não citarei já que nada ganho com propaganda. Enfim, é um concerto fantástico! Na minha humilde opinião, entretanto, é no "Allegro de Inverno" que se encontra a alma deste clássico.
Começa com um suave e insinuante violino. É como o toque de pele com pele, aquele primeiro contato pseudo acidental que prefiro crer como manifestação do mais primitivo instinto animal. É um cruzar e descruzar de pernas incessante. É a total impossibilidade de ouvir ou ver qualquer coisa que não seja o seu objeto de desejo. É taquicardia involuntária. É o pensamento fixo no objetivo de conduzir outrem a querer o que tanto deseja.
São olhos que se tocam, olhos que se acariciam, olhos que se despem, olhos que se penetram.
Depois são pernas que acariciam pernas por baixo da mesa. Mãos que deslizam por rostos, braços, costas... E aí vem aquele frenesi dos violinos: corpos que se encontram, corpos que lutam, corpos a brincar de querer-e-não-querer, de ir, voltar, ficar.Perto e longe. Perto e longe.
E entra a orquestra. Imperiosa, provocativa, a tentar disputar espaço com os violinos como se fossem mãos a empurrar um corpo contra a parede ou para uma cama. Corpo sobre corpo. Pele com pele. Cheiro de canela. Gosto de cravo e gengibre. Calor. Calor não do Sol, mas do fogo à quase queimar a pele.
De repente, violinos, pernas, línguas, orquestra, braços, peitos, lábios, dentes, olhos se entrelaçam, se beijam, se tocam e se invadem num movimento rítmico, numa compulsão por transcender o intranscendível, numa necessidade visceral de materializar o enlace espiritual, de transformar o querer no ter. E por fim, vem o ápice: os violinos gemem num orgasmo avassaladoramente pecaminoso e ingênuo!
E volta-se à suavidade. Corpos entregues a uma tímida analgesia descansam da tempestade.
Mas os violinos voltam a ranger e lembram a respiração ainda ofegante que intercala-se à beijos famintos, lábios ainda não saciados. Logo, num instante, a orquestra solta um júbilo de gozo quase tão perfeito quanto o primeiro, levando corpos a uma exaustão ígnea.
E a música cessa. No entanto, o risinho malicioso fica em nossos lábios e a memória sensorial nos traz aquele olhar "de cigana oblíqua e dissimulada" tais quais Capitus que fomos, somos ou seremos. Com ou sem violinos.