quinta-feira, 20 de março de 2014

Outono sem frutos

No nada que somos, a que todo representamos? Mil pedaços quebrantados trazem menor valia ao todo que era belo, etéreo? Que parte minha era tua? O que meus lábios roubaram dos teus? Hoje entrego a metade que a ninguém pertencia. Tenho medo do eco do silêncio que se fez. Mas continuo à espera do desafio do tempo. Os cacos do tempo também não me pertencem. E os fragmentos do amor que não teve forças para nascer foram abortados, desceram pelo ralo. O ralo. Todo o mal extirpado desce através do ralo. Pedaços meus, pedaços teus... Nosso sacrifício foi pesado em balança e considerado insuficiente. Não penso nos retalhos dos vestidos primaveris que agora só servem para cobrir a cama. Eu penso nas nossas almas retalhadas pela quimera. O peso do vazio que carrego é maior quando teus olhos pousam sobre o meu ventre. O ventre. O outono há-de passar sem o fruto do ventre. E o começo desta história fica adiado para outra estação.