quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Diário da Lusitânia: de como caí de paraquédas na terra de Camões

Meu querido leitor deve estar a perguntar-se:"que faz esta cronista louca em Portugal?" Pois bem, já explico-me. Certo dia, entre minhas correrias desesperadas diárias na busca alucinada por dar conta de aulas mil, monitoria de Matrizes Clássicas e minicurso de Literatura Medieval (Sem falar em pesquisas para trabalhos alheios, culpa da minha cara de panaca e incapacidade para dizer não.), recebo um telefonema de minha mãe (Na verdade, não foi tão simples como fiz parecer: ela ligou-me umas trinta vezes, mandou-me umas cinquenta mensagens de texto e ainda uns vinte, vinte e cinco sinais de fumaça.)dizendo-me que haviam me ligado da faculdade e que eu deveria ir à secretaria com urgência. Pensei:"ferrou!Que fiz desta vez?" Brincadeira, imaginei que fosse algum documento faltante (Acho incrível a quantidade de documentos que despejamos na universidade!Sinceramente, até hoje não sei para que serve muita coisa que na secretaria deixei, aliás, pergunto-me se na secretaria sabem para que serve...Se bem que, dada a quantidade de maconheiros de plantão, deveria-se pedir também exames de urina...). Quando cheguei à secretaria (e aí deve imaginar meu amigo leitor que minhas dúvidas foram sanadas), pediram-me para deixar meu nome, telefone e email. "Hã?!? Como assim? Para quê?" Uma amiga menos desavisada disse-me que era para estudar em Coimbra. Pensei: "Beleza! Deve rolar alguma prova e tal, mas tranquilo!, é só estudar."
Desde uma aula de Matrizes Clássicas Romanas que tive no meu primeiro semestre na faculdade,fixei como alvo a Universidade de Coimbra. Pode parecer bobo, mas foi por causa de um livro de literatura clássica latina cuja editora era a U.C.. Um brasão tão bonito! Eu simplesmente precisava saber mais. Dei uma pesquisada básica em São Google e, depois de muito fuxicar,decidi que seria nesta universidade que eu faria meu mestrado em Literatura Portuguesa. Já tinha tudo planejado e, para manter meu propósito vivo, baixei uma imagem do brasão e pus no meu Livro dos Desejos( que é história para uma outra crônica, num outro dia...). Tivemos uma entrevista que consistiu basicamente na seguinte pergunta: "vocês querem estudar em Coimbra?" (E aquela vontade imensa de dizer: "Hello, o que estou fazendo aqui? Pensa que não tenho nada a fazer? Estou matando uma aula muito importante para ouvir uma perguntinha dessas?". Mas respirei fundo,abri o meu maior e mais belo sorriso e disse:"Claro!").
Mas passaram-se dias, semanas e meses. Silêncio. Um amigo e eu passávamos sempre pela secretaria para perguntar as novidades, se já havia alguma resposta e nada. Estava já a ver o dia que poriam nossas respectivas fotos no mural com uma inscrição: "Todos são bem vindos excetuando essas pessoas."
Entretanto, a vida corria normalmente. Continuei a trabalhar no meu projeto de monitoria (A pretensão era fazer um puta artigo com direito à poesia clássica,modernista, Semiótica e estética da intensidade.), dar umas paqueradas (Que não deram em nada, que conste nos autos. Mas tentei,já vale,né?), conhecer gente nova, redecorar meu quarto...enfim, tudo que se faz normalmente para manter a permanência em terra firme interessante (ou ao menos tolerável).
Então,num belo dia de vagabundagem (férias de julho), recebo um email avisando que havia sido aceita e precisava resolver tudo: passaporte(Claro que eu não tinha um!Nunca havia visto mais gordo!Os lugares mais distantes que eu costumava ir era à São Paulo ou Minas Gerais, para casa de parente...), visto e essas porras todas que a gente adora ter que resolver num país com tão pouca burocracia como o nosso! Meu caro leitor,foi tenso! Muito frenesi, idas ao consulado, polícia federal, polícia civil, médico, agências de viagem...uma verdadeira odisseia.(Não que meu diário percurso Japeri-Niterói-Japeri já não fosse coisa de Ulisses...)Eu não tinha noção da capacidade humana em estressar-se e causar estresse! Aprendi tudo neste período! Ainda tive tempo para cineminha com paixões platônicas nunca correspondidas, choppadas com amigos, visita à faculdade (para visitar amigos e professores...Mentira! Era para ver um "amigo" que nunca passou de amigo por não entender ou fingir não entender minhas sutis insinuações...)...
Mas vamos lá, despedi-me de meus amigos de pelos, minha mama querida(e sua comidinha maravilhosa!), meu irmãozinho e melhor amigo, meu quarto fofo,meus amigos, minha manicure perfeita,minha universidade,meus amados professores(juro que é verdade!), minha vida...Parti para o desconhecido, de peito aberto, pronta para me aventurar, navegar por outros mares, caminhar por novas terras,ver, sentir, ouvir, provar, cheirar coisas diferentes(Pelo amor de Deus,não estou falando de drogas!)... E acá estou,como dizem os lusitanos, há dois meses nas terras de Camões. E que dois meses!Mas isto é assunto para outra crónica. É tarde,preciso dormir pois amanhã tenho um encontro com Padre Antonio Vieira...

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Esses Homens!?!

Pobres homens! O mundo está a avançar mas parece que eles não conseguem se atualizar. Queridinhos, aviso: nós, mulheres, já não somos as tolas e bobas de outrora. Abandonamos por completo nossa função de capacho humano. Nossa espécie adaptou-se e evoluiu!
Não é que sejamos demônios de rímel e salto alto como creem alguns, mas aprendemos que o segredo para se ser valorizada é, acima de tudo, valorizar-se. Aprendemos também que racionalizar tudo é besteira. A vida foi feita para ser vivida e não explicada.
Mas parece que certos homens não entendem, ainda vivem à margem da contemporaneidade. Só para começo de conversa, os homens tem a estranha mania de achar que, se levarem uma mulher para cama, ela acabará se apaixonando, acham que seus pintinhos são varinhas mágicas capazes de transformar tesão em amor. Hello!?! Homens, se liguem: não é só porque a montanha-russa foi divertida que hei de a instalar em minha casa! Há muito se foi o tempo em que mulher não sabia dissociar sexo de amor.
Outra das "ideiazinhas" masculinas e achar que toda mulher quer se casar. Meus amores, casamento para quê? Não é que eu seja contra relacionamentos ou algo assim, mas hoje em dia, nós ficamos com um cara porque queremos estar com ele e não porque precisamos . E quando digo que não mais precisamos, não falo só economicamente, mas também na esfera afetiva. Algemas, quer dizer, alianças, são inteiramente desnecessárias. Não era isso que os homens queriam? Desde criança tenho ouvido aquele velho discurso masculino de que já não suportam muheres pegajosas, emocionalmente dependentes e Blá! Blá! Blá! Pronto, está feito, conseguiram.
Contudo, parece que o homem não consegue lidar com isso. Acho que pensam: "se ela não precisa de mim, como a conquistarei?". Digo-lhes: é aí que está mágica. Se apesar da não necessidade uma mulher escolhe estar com um cara, é porque, no mínimo ele a atrai. Não é muito melhor assim? Nada de joguinhos, dilemas, crises, etc. Mas não, o homem tem arranjar ideia e inventar alguma zica. Pura incapacidade de lidar com as mudanças. Crianças, adaptem-se, evoluam ou se extinguirão! Já é fato: homem só é necessário para abrir vidro de palmito! É bom que sejam criativos e pensem em formas diferentes de se tornarem indispensáveis.
A coisa anda tão diferente, que tenho uma teoria de que o homem de hoje é a mocinha de antigamente. Estão, só para começar, cada vez mais vaidosos, sentem uma necessidade tamanha em aparecer, expor suas figuras. Deram para bancar os sentimentais. "Porque você falou assim comigo e me magoou", "Você não falou comigo no dia seguinte", "Você me olhou com desprezo" e coisas do tipo. É uma frescurada tamanha.
Conclusão do assunto: homens não sabem o que querem. Exato, amigas, eles passaram séculos aprlicando esta afirmativa à nós, mulheres, e agora estão nessa. Eu não entendo mais nada e nem sei se quero entender. Façamos o que aprendemos com eles: nos divertimos um pouco e, quando não mais o suportarmos, desligamos o celular.

Epitáfio

Não sou do tipo suicida, mas às vezes penso em morrer. Vontade que dá e passa. Vontade de morrer, mas só um pouquinho, só para sentir como é não sentir. De qualquer forma, ainda não estou pronta para a morte definitiva.Antes de morrer, quero escrever o que será lido em minha lápide.
Entretanto, o que poderia dizer sobre mim?
Sou sagitariana e florbeliana. Sou todas essas Anas possíveis e impossíveis que existem e subexistem dentro de mim. Às vezes sou Pedro também, quando luto contra lágrimas, quando pego o botijão de gás, quando chego em casa no último ônibus, a última passageira.
E as Anas? As Anas são muitas, todas elas se amando e se odiando, entre a sombra e a luz. Tenho a Santa Ana, a mais chata de todas as Anas, que insiste em acreditar que tudo pode dar certo e ama incondicionalmente. Esta Ana tem o vil defeito de julgar os atos humanos, inclusive os seus. É esta que acredita que de fato deve existir Deus em algum lugar na imensidão do Universo.
Existe a Ana aventureira que sonha com uma paixão avassaladora por um arqueólogo que a faça ganhar o mundo e conhecê-lo assim como conhece seu rosto refletido no espelho.
A Ana vaidosa tem sobrevivido, embora não saia muito de casa atualmente. Essa Ana adora pintar as unhas e sabe que a calcinha que se usa com uma calça jeans é muito diferente da que usa-se com um vestido de malha. E por falar em calcinha, existe até uma Ana bacante que é uma Ana que poucos mui bem escolhidos viram se revelar. Esta Ana sabe que só se vive uma vez e, por isso, quer vivenciar tudo em cada célula, em cada pequena fibra do seu corpo e da sua alma.
E há também, não nos esqueçamos, a Ana sonhadora que é a pior de todas as Anas. É esta Ana que se crê escritora e tem a estranha mania de poetar. É a Ana que se apaixona e se ilude. É a Ana que está constantemente a esperar por algo que seja tão maravilhoso, tão perfeito que rompa com a lógica da Ana estatística . Esta, aliás, sabe que tem 99% de chance de escolher o cara errado para assenhorar-se de seu coração e que, mesmo se decidisse nunca mais sair de casa, teria 65% de chance de morrer antes dos trinta anos, morte que poderia variar desde um ataque cardíaco até uma explosão causada por um desastre de avião no seu quintal.
São muitas Anas e eu sou todas elas, que se manifestam juntas e separadas, em conjunção ou disjunção. Sou apenas mais uma mulher. Não paro o vento nem sei quantas estrelass há no céu. Para falar a verdade, eu sequer aprendi a assoviar. Não sou nada genial, não tenho um olhar fatal. Quando eu passo, não paro a rua. Não aprisiono corações, mas também não permito que aprisionem o meu. Não espero mais por milagres, acho que nem a Santa Ana. Não volto para ex-amores.Não me conformo em assistir um filme apenas uma vez.Tenho fobia de borboletas. Às vezes choro sem saber porquê. Não acredito em amor à primeira vista. Às vezes falo sem saber o que dizer, o que é um péssimo defeito, eu sei. Sou apaixonada pelo cheiro de terra molhada e vou contar um segredo: não penteio o cabelo todos os dias. Fico entediada no inverno. Muito entediada.
É, pensando bem, eu até corro atrás do vento de vez em quando. E conto as estrelas.
E o epitáfio? Não dá para escrever tudo isso no meu túmulo. Mas eu sou tudo isso. E muito mais. Não somos todos nós, paradoxalmente únicos e vários ao mesmo tempo? É, de fato, preciso de mais algum tempo para descobrir como posso me definir em tamanho suficiente para a inscrição num túmulo.
Enfim, sou sagitariana e florbeliana. Sou todas essas Anas possíveis e impossíveis que existem e subexistem dentro de mim.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Os violinos orgásmicos de Vivaldi

Senhores críticos de música que venham, quem sabe algum dia, a ler o que estou a escrever, perdoem-me, por favor. Sou apenas uma inocente cronista que, paralelamente adora música clássica, mas que desconhece toda e qualquer parte técnica do assunto. Tudo o que posso dizer, e direi, basea-se nas sensações que me causam a música, nas ideias a que me remetem.
Caminhemos, entretanto ao nosso assunto: o leitor já teve o prazer de apreciar "As quatro estações" de Vivaldi? Ao menos os movimentos de "Primavera" deves conhecer devido a um comercial duma famosa marca de sabonete cujo nome não citarei já que nada ganho com propaganda. Enfim, é um concerto fantástico! Na minha humilde opinião, entretanto, é no "Allegro de Inverno" que se encontra a alma deste clássico.
Começa com um suave e insinuante violino. É como o toque de pele com pele, aquele primeiro contato pseudo acidental que prefiro crer como manifestação do mais primitivo instinto animal. É um cruzar e descruzar de pernas incessante. É a total impossibilidade de ouvir ou ver qualquer coisa que não seja o seu objeto de desejo. É taquicardia involuntária. É o pensamento fixo no objetivo de conduzir outrem a querer o que tanto deseja.
São olhos que se tocam, olhos que se acariciam, olhos que se despem, olhos que se penetram.
Depois são pernas que acariciam pernas por baixo da mesa. Mãos que deslizam por rostos, braços, costas... E aí vem aquele frenesi dos violinos: corpos que se encontram, corpos que lutam, corpos a brincar de querer-e-não-querer, de ir, voltar, ficar.Perto e longe. Perto e longe.
E entra a orquestra. Imperiosa, provocativa, a tentar disputar espaço com os violinos como se fossem mãos a empurrar um corpo contra a parede ou para uma cama. Corpo sobre corpo. Pele com pele. Cheiro de canela. Gosto de cravo e gengibre. Calor. Calor não do Sol, mas do fogo à quase queimar a pele.
De repente, violinos, pernas, línguas, orquestra, braços, peitos, lábios, dentes, olhos se entrelaçam, se beijam, se tocam e se invadem num movimento rítmico, numa compulsão por transcender o intranscendível, numa necessidade visceral de materializar o enlace espiritual, de transformar o querer no ter. E por fim, vem o ápice: os violinos gemem num orgasmo avassaladoramente pecaminoso e ingênuo!
E volta-se à suavidade. Corpos entregues a uma tímida analgesia descansam da tempestade.
Mas os violinos voltam a ranger e lembram a respiração ainda ofegante que intercala-se à beijos famintos, lábios ainda não saciados. Logo, num instante, a orquestra solta um júbilo de gozo quase tão perfeito quanto o primeiro, levando corpos a uma exaustão ígnea.
E a música cessa. No entanto, o risinho malicioso fica em nossos lábios e a memória sensorial nos traz aquele olhar "de cigana oblíqua e dissimulada" tais quais Capitus que fomos, somos ou seremos. Com ou sem violinos.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

E que venha 2012!

Querido leitor, acabemos com essa palhaçada que são essas crônicas!Nunca mais vou escrever. Cansei, parei. Você não as lê mesmo. Não vai fazer diferença. Convenhamos, a vida é uma grande, enorme tigela de merda e não deixará de a ser com meus escritos. As pessoas são idiotas, mesquinhas, egoístas, mentirosas, fingem tão perfeitamente se importar com as outras que quase chegam a enganar a si mesmas. Se vestem da máscara de bons amigos esperando obter algum lucro, qualquer lucro. Matam pelos motivos maus imbecis possíveis. Trapaceiam. Falam demais ou, ao inverso, não tem voz quando é necessário (e entre esses, eu me incluo).
O planeta mais paece uma bomba prnta para explodir à qualquer momento. As músicas agora são monossílabas, isto quando não são apenas alguns gemidos imcompreensíveis. Política me faz quase vomitar. (Tiririca e Romário são deputados!) E como se não bastasse toda essa merda, "Crepúsculo" é um best-seller!
Pensando bem, querido leitor, não só vou parar de escrever como também irei me suicidar. Ainda não sei como irei fazê-lo, mas precisa ser bem poético. Aceito sugestões. Mas nada que cause dor, por favor! Sou suicida, não masoquista.
Vou começar meu plano fatal ecrevendo uma carta daquelas bem passionais. Vou jogar pra fora toda essa porra que fica presa na minha garganta, tudo que fica gritando na minha cabeça. Vou começar a carta com: " Aos idiotas que na terra permanecem".
Aliás, por falar em permanecer, para onde será que eu vou quando morrer? Sou algum coisa entre agnóstica e ateia, mas, digamos que este ser ao qual chamam "Deus" de fato exista? Neste caso, estou ferrada. Ou será que existe o seu dos ateus?
Pensando bem, bom mesmo deve ser o inferno. Samba. cerveja e churrasco. Não dizem que o lugar é quente? Deve ser mais ou menos o Rio de Janeiro em eterno fevereiro. Sem falar que os melhores devenm estar lá: de Cleópatra à Napoleão, de Flaubert à Florbela Espanca, passando por Gregório de Mattos, Noel Rosa e Jorge Amado.
Será que no inferno tem plano de saúde? Melhor eu procurar me informar. Será que nas missas que eu não falou-se sobre isso?
Pensando bem, a politicada deve estar toda lá também. (Ou será que conseguiram comprar uma mansão no céu? Não duvido de nada vindo desse povo.) Só por garantia, é melhor eu me resguardar. Se encontro esses caras vou acabar sendo explusa para o inferno do inferno, ou pior, podem me mandar pra Brasília.
É, leitor, como diz um amigo, espero, do fundo do meu coração, que os maias estejam certos e que venha 2012.
Enquanto isso, fico por aqui mesmo, só para ver onde essa merda toda vai parar.E continuo a escrever também, pelo mais puro e delicioso sadismo.

domingo, 3 de abril de 2011

As histórias por trás das letras





Os livros estão carregados de histórias. Não, não falo do óbvio. Não me refiro às letras impressas, ao que foi dito pelo escritor. Não falo dos livros com páginas ainda coladas e cheiro de papel novo. Antes, refiro-me áqueles livros que já não são virgens, livros que foram lidos e relidos, ou que foram, por qualquer razão, ignorados em uma estante. Falo do livro que foi companhia em uma viagem, que foi analgesia para um mal do coração.Falo do livro que começou uma guerra ou, antes, que simbolizou um tratado de paz. Falo do livro que hoje tem as páginas amareladas, meio soltas. Falo do livro com cheiro de mofo, do livro que abre sozinho em certas páginas.Falo do livro que dormiu debaixo de um travesseiro, que foi escondido no fundo de uma gaveta. Falo dos livros que ganharam alma.
Tenho uma paixão nada secreta por tudo que é antigo: roupas, cabelos, móveis, línguas, costumes, fotografias e, é claro, livros. Adoro livros antigos!
Essa minha paixão pelo velho (sim, digo velho e não antigo livre de qualquer preconceito, uma vez que acho delicioso o som produzido por este vocábulo) leva-me com frequência a um lugar que chamo de pequeno paraíso: o sebo.
Nos sebos encontro muito mais do que simples livros. Encontro pedacinhos de história que parecem estar a esperar por uma alma gentil para que possam se libertar no plano da imaginação.
Uma excelente forma de um livro contar histórias é através de sua folha de rosto. Quem nunca deixou ali uma dedicatória, uma citação, um verso ou uma simples e misteriosa assinatura?
Dia desses, ao procurar loucamente por "Ressurreição", de Machado de Assis, topei comoutro livro que também iria precisar: "Os Lusíadas" de Camões. Mas este não era qualquer "Os Lusíadas". O livro que encontrei data de 1924! O livro estava caindo aos pedaços e, embora houvessem exemplares em melhores condições, foi este que decidi que merecia um novo lar. Minha habilidosa mãe logo deu um jeito nele que agora tem um aspecto muito melhor. O mais interessante, entretanto, ainda está por vir. Dentro do livro havia um bilhete que revela ter sido, o livro, um presente. O bilhete diz:

"Nenê,

Afim de bem conhecer o suave e riquissimo idioma que falamos, em que ha, para expressao do mais doce e nobre sentimento, a palavra saudade, inexistente em qualquer outra lingua com o mesmo vigor sentimental e intellectivo, ninguem póde deixar de haver perlustrado as paginas maravilhosas dos "Lusíadas", poema que é ao mesmo tempo um monumento philologico, poetico e racista.
Assim, para que V. se integre com os prodigiosos recursos vocabulares e syntacticos do vernaculo, dou-lhe este livro, que, de par com os conhecimentos que lhe facultará, ha de ter o condão de me fazer sempre lembrado por alguém que maneje com perfeição o idioma
"...em que da voz materna ouvi _ Meu filho!
e em que Camões chorou, no exílio amargo
o genio sem ventura e o amôr sem brilho!"
Oxalá lhe possa este volume servir, no estudo diuturno de moça intelligente e amante das boas letras, para consecução de uma solida cultura literaria da Lingua Portugueza.

Rio, 22 de outubro de 1936"
(grafia da carta foi mantida)

Após ler o bilhete, comecei a pensar na "moça intelligente e amante das boas letras" que fora Nenê e comecei a perguntar-me se não seria ela parecida comigo: uma estudante da Língua Portuguesa, uma apaixonada por Literatura. E quem será que lhe deu o livro? Um amigo? Um professor? Um apaixonado? Com certeza foi alguém que não queria ser esquecido, como deixa claro quando diz que espera que o livro faça-o "sempre lembrado por alguém que maneje com perfeição o idioma". E por que ele cita "saudade" logo no início do bilhete? Exemplo citado ao acaso para falar da singularidade da língua? Ou há nessa inocente citação um recado para Nenê? Teria todo esse bilhete cheio de eloquência o objetivo de dizer: "Nenê, sinto saudades. Por favor, não esqueça de mim."?
Há não muito tempo atrás, desenterrei outro livro de um sebo que ainda hoje põe minha mente a flutuar. Coleciono Agatha Christie e, quase sempre compro um exemplar. No "A morte no Nilo", encontrei a seguinte inscrição:

"Para Sueli (apesar de não merecer um presente meu)do seu "amigo",
Matias"

(trancrito como no livro)

Eu, que nada romântica sou, comecei a inventar uma daquelas paixões avassaladoras, com direito à malas e roupas arremessadas da janela e beijos desesperados em plena avenida movimentada. Imaginei uma Sueli imatura e verborrágica e um Matias sincero e ressentido.. Vi Matias passar em frente à uma loja e ver o livro que viu Sueli cobiçar dias antes da discussão onde juraram nunca mais se verem. E o vi comprar o livro e escrever a dedicatória no balcão da padaria e, logo depois, depositá-lo na caixa de correio de Sueli. E imaginei Sueli encontrando e livro, abraçando-o bem forte e correndo para o seu quarto para chorar. E vi quando ela correu à casa de Matias e, pedindo perdão, jurou nunca mais chamá-lo de imbecil, mesmo sabendo que logo tornaria a fazer isso.
Devaneios à parte, quando um livro chega às minhas mãos, penso nas mãos que antes de mim o tocaram e imagino as interessantes histórias que se encontram por detrás da história que conta o autor. Histórias que foram perdidas, encontradas, encaixadas, desconectadas, combinadas e recombinadas, e faço minha parte deixando um pedaço meu em cada livro para que se entrelace às outras e a ele dê vida.

terça-feira, 8 de março de 2011

Dia Internacional da Mulher

É, queridas amigas,nosso dia! Uhu! Aliás, "uhu" sem força alguma. É quase metade do dia já e ninguém me felicitou. Ninguém. Será que minha ausência de peitos tem algo a ver com isso? Pode ser que os rapazes estejam se confundindo. Aliás, isso explicaria muita coisa. Estou tendo quase que apelar à certos homens, dizer: "meu irmão, sou uma garota, valeu? Sou meio despeitada, mas o resto é todo bem feminino."
Mas deixemos meus peitos à parte. Escrevi, há provavelmente um milhão de anos, um poemeto em homenagem ao meu gênero. E aí vai (aliás, acho que ninguém lê mesmo essa merda de blog, só minha amiga que está viajando. aff):


Aquela mulher



Eu sou aquela mulher
Eu sou só mais uma mulher
Sou todas as mulheres
Que você disse não.

Sou aquela mulher
Que lutou por democracia
Aquela mulher
Que hoje trabalha até em delegacia
Sou aquela mulher
Que não tem medo de entrar numa fria

Eu sou a mãe que amamenta
A esposa que acalenta
A namorada que faz
Sua cabeça pirar
Eu sou a filha que
Enlouquece o pai
A menininha que brinca de boneca

Eu sou aquela mulher
Eu sou só mais uma mulher
Eu sou todas as mulheres
Que você disse não
E dias depois disse sim
Então falei:
Agora eu digo não.



(Ágata Elandros)




Então, tchau. Beijinho.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Ressaca não-alcoólica

Desculpem-me o tempo que fiquei sem postar. Estava resolvendo uns problemas de ordem interior. Se era homem, amigas? Claro, entendo. Para vocês, homens sempre são um problema. Concordo. E respondendo, o problema era homem sim. O único que tira meu sono, minha fome e faz eu querer me atirar de cima Torre Eiffel (Se é para morrer, que o façamos em grande estilo, não?) : meu pai. Homem difícil, viu? Não sei como minha mãe o aturou por mais de 20 anos. Nada melhor para resumir o dilúvio interior relacionado a ele do que Catulo: "Odi et amo." Vida cruel e coração vagabundo. Mas deixemos esse papinho sentimental de lado.
E então, amigos leitores, como passaram de Carnaval? Eu aproveitei o feriado para mais uma sessão edredom-pizza-dvd. Comecei na sexta à tarde assistindo "Garota da vitrine" que sempre me faz chorar baldes. Maravilhoso, juro! Quando comprei o filme e vi Steve Martin na capa, pensei que era um besteirolzinho para me fazer rir e ficar de bom humor aí, quando assisto o filme em casa, vejo-me diante de mim mesma tendo que resolver questões que eu havia engavetado para as evitar. Mas o filme é bom. No sábado não assisti filme algum por causa daquele profano Flamengo X Olaria. Meu irmão é flamenguista. Deve ser só para me contrariar. Ontem, entretanto, a tv foi toda minha. Meu irmão e sua alegria carnavalesca saíram para curtir, enquanto eu fiquei em casa com meu querido (e homem mais perfeito do mundo! Salve! Salve!) Russell Crowe! Assisti "Uma mente brilhante" pela sei lá que vez. Adoro esse filme! Sempre choro na cena em que ele recebe as canetas em Princeton. Mais do que com o discurso do Nobel. Embora seja eu uma mulher das letras, em certas circunstâncias, prefiro os simbolismos de ações, objetos, etc, do que as palavras. Depois assisti "Sociedade dos poetas mortos", outro clássico da minha filmografia particular. Adoro a cena do suicídio! Aliás, adoro cenas de suicídio em filmes. Não por perversão, por favor! Acho muito poética a passionalidade dos suicidas. Aliás, isso me faz lembrar de um poema de Manuel Bandeira. Continuando, encerrei a noite em grande estilo: Fui dar uma zapeada na tv (aliás, passo mais tempo zapeando do que assistindo algo!) e parei num filme que acabava de começar: "Casa de areia e névoa". Perfeito! Jennifer Connely estava fantástica. O final é trágico, triste, mas lindo. Hoje já comecei meu dia com um café da manhã nutritivo (café com pizza de ontem) e vejo que será mais uma semana que adio o início da minha dieta. Os "quinze minutos de exercícios diários" não rolaram mesmo. Semana que vem recomeçam as aulas na faculdade. Estou pensando em contar o tempo que gasto andando até lá como exercício. Será que serve? Levando em conta o meu atual estado sedentário, acho que qualquer coisa serve. Também planejei pegar um sol, voltar às aulas com aquela minha profana marquinha de biquini. Agora, só se alguém lá em cima gostar muito de mim e parar com essa chuva chata. Um fim de semana de sol intenso é tudo que peço.
Queridos, vou procurar algo de útil pra fazer. Estou querendo experimentar um visual meio pin up girl. Se der certo, posto as fotos. Kiss, kiss. Bye, bye.

quarta-feira, 2 de março de 2011

De caos em caos

A euforia que antecede o fundo do poço é enganadora. Faz você acreditar que pode fazer tudo, ser tudo, salvar o mundo. Sua mente trai você. E ela faz isso melhor do que qualquer um. Conhece seus pontos fracos e é impiedosa, não tem medo de nada. E depois vem o caos. Ao pular do precipício, você descobre que não tem asas. E começa a cair e cair, sem nunca saber onde vai parar. E por mais fundo que esteja, nunca é suficientemente fundo. E logo vem o sentimento de culpa. Você pensa em tudo que fez no estado de euforia, pensa na sua tentativa desesperada em voar, não importa como. A ânsia por aquelas gotinhas de adrenalina na corrente sanguínea. E aquela maldita sensação de desconhecimento de sua própria pessoa: serei eu aquela pessoa enérgica, eufórica ou sou este outro ser deprimido, gelado? E ainda no estado depressivo surgem os subestados. Primeiro, você fica tão sensível que parece haver uma mão esmagando seu coração com toda a força. Em seguida, seu coração é arrancado e, em seu lugar, surge um bloco de gelo. O caos, a guerra, a morte, nada mais toca você. E algo por dentro começa a gritar desesperadoramente por algum sentimento, qualquer um. Mas nada, nada acontece. Só o silêncio responde. E você, que já se conhece, sabe que este é o pior estágio porque a morte começa a fazer sentido. Ela canta como as sereias. Você sabe que está tão imerso em si mesmo que parece que se perderá para sempre. E as sereias continuam a cantar. Mas, por sorte, surge uma cordae, ao deixar o abismo, você promete nunca mais se lançar ao precipício. Mas no fundo você sabe que mais cedo ou mais tarde voltará.

O mar e eu

Entrei nesse beco sem saída e a tristeza me consome. Vou nadando contra a correnteza, mas a todo instante temo não ter forças e me afogar em meio ao tédio, a essa tristeza, a esse vazio medonho... Meu grito de desespero não produz som algum. Nem toque do cair dos cacos do meu coração ao solo foi ouvido. É essa ânsia por fogo que me destrói. O extraordinário não existe. Apenas há a mediocridade, esse lago sem fundo que me leva. Lago impiedoso. E nesse lago, meu fôlego vai acabando. E com ele também vai meu desejo por respirar. Será que sempre será tudo só isso? Tão pouco! Por que meus braços não são mais fortes? Por que não nado com mais força? Será que, no fundo, quero me afogar? E digo: "Ágata, não há um barco se quer a lhe resgatar. Não há. Nunca houve. Nunca haverá. Afoga-te." Mas no fundo, lá no fundo do meu íntimo ouço uma voz que diz: "Sobreviva! Sobreviva mais este dia. Levanta-te, Ágata. Não deixe o mar a tragar. Não desista da pena, pois esta nunca a abandonará. Irá contigo até o fim de seus dias. E quem sabe,não será ela sempre tua única companhia." Mas esse medo da vida, esse medo de mim mesma, dos meus sentimentos, minhas paixões, meus desejos, esse medo me leva à praia e lança-me ao mar. E então, eu não existo mais. Eu existo, aliás. O mar sou eu e eu sou o mar.

terça-feira, 1 de março de 2011

O dentista e o hospício

Lembra do que eu disse ontem sobre não ter compromisso algum? Pois é, depois eu me lembrei que tinha um compromisso sim. Eu ia ao dentista, mas acabei esquecendo. Será que era esse o tal compromisso no qual não deveria me atrasar pois conheceria o "amor da minha vida"? Se era, já era. De certa forma, fico até feliz. Não quero ter que contar para a posteridade que, num belo dia chuvoso, encontrei o amor em um consultório odontológico. Muito pior a coisa fica se o tal "amor da minha vida" for o dentista. Já pensou? "Pois é, meu filho, conheci seu pai entre a obturação da Ana e o canal do Pedro." Não, perdoem-me odontólogos, mas me recuso a crer que o meu novo amor será um cara que ganha a vida fuçando a boca alheia. Não é preconceito. Ok, talvez seja mesmo preconceito mas, compreendam-me: estou esperando por um arqueólogo, um astrônomo, um ativista, um poeta , um mágico, um palhaço, um psiquiatra, um monge, um gogoboy, um padre, um pintor, um escultor ou um tratador de camelos. Para um cara me aturar terá que ser muito criativo, ousado e completamente louco. Aliás, está aí algo que me incomoda profundamente: a normalidade alheia. Não sei, não consigo achar graça em pessoas muito normais, muito certinhas. São os loucos que fazem a vida mais interessante. Pena que acabaram os hospícios! Tenho certeza que encontraria o homem da minha vida num deles. Bem, mas me despeço aqui. Tenho que acender uma vela para São Elvis. ( Só por garantia, vou acender uma para São Freud também.) Beijinho.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Epifania

Hoje, após tomar a quinta, sexta ou sétima chícara de café, tive uma epifania. Eu vi "o cara": São Elvis veio em pessoa( ou será em espírito?) só para falar comigo! Eu juro! (Era só café mesmo, não consumo álcool, caso alguém esteja se perguntando.) O que ele queria comigo? Bem, primeiramente, mandou-me parar de tomar café. Achei isso tão injusto. Atualmente tenho consumido bem menos café que o habitual, mas ele é "o cara", vou ver o que consigo fazer sobre o assunto. Depois São Elvis deu uma guitarrada no meu traseiro e falou para mim parar com essa história de preguiça de escrever. Ele disse-me: "Garota, se quiser ter a menor possibilidade que seja de um dia tornar-se uma grande escritora ( apesar de seu um metro e meio), senta seu gordo traseiro brasileiro nessa cadeira agora e escreva." Pois é, cá estou eu movida por medo de uma nova guitarrada de Elvis em meu bumbumzinho. Já imaginou se ele incha mais? Aí não saio mais de casa e deixo de vez de entrar na minha calça favorita. O fato é que essa experiência espiritual mudou minha vida profundamente.Agora sou uma iluminada. ( Será que tornei-me Buda?) Devaneios à parte, a partir de então vou escrever diariamente nesse blogueto. Provavelmente o que se lerá aqui será muito besteirol com breves ( muito breves) momentos de sanidade e reflexões de alguma utilidade pública. Como diz um amigo blogueiro, se ninguém ler, ao menos exorcizarei algumas ideias, memórias, sentimentos... Bem, mas já vou indo porque meu horóscopo diz para eu não me atrasar para meu compromisso porque irei conhecer um novo amor hoje. Eu não tenho nenhum compromisso, portanto, acho melhor arranjar logo algum antes que perca a oportunidade de encontrar minha "pessoa amada". Mas estou cá a pensar: será que já estou atrasada? Pois é, e lá se vai o amor da minha vida. De novo. Tem problema não, na próxima (vida?esquina?birosca?) a gente se encontra. Beijinho.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Um destino fabuloso

Volto ao meu querido blog entregue às moscas para falar sobre um assunto que eu verdadeiramente adoro: cinema. Se não fosse letrista, certamente estaria fazendo algo relacionado a esta arte.
Mas vamos ao assunto do dia: O fabuloso destino de Amélie Poulain, de Jean-Pierre Jeunet. O filme é absolutamente delicoso. Amélie, a personagem principal, é uma garçonete que vive em Paris e leva uma vida simples, sempre envolta em seu mundo particular. Até que um dia, por um simples acidente, sua vida se modifica. Ela encontra uma caixinha cheia de lembranças da infância de alguém é, a partir daí, decide encontrar o dono e determina que dependendo da reação desde ao encontrar seus velhos objetos irá dedicar sua vida a ajudar outras pessoas ou não. E é nessa procura em ajudar outros que, entre encontros e desencontros, Amélie confronta-se com seu próprio destino.
A história é tão doce quanto Audrey Tautou no papel de Amélie Poulain. Há ainda certa dose de humor e ardor que permitem que o filme não se torne enjoativo. Aliás, não foi à toa que o filme recebeu cinco indicações ao Oscar 2002, incluindo melhor filme estrangeiro.
Este é certamente dvd para se ver e rever. Vale a pena ter em casa.