terça-feira, 20 de março de 2012

A resposta

Porque as feridas ainda estão expostas. E toca nelas quem bem entender. E abstenho-me de ver. Não posso. Não quero. Mas não mais me absterei da fome de tempestade.
Perdoe-me se em tua jaula não entrei. Eu vi a armadilha. E eu dancei sobre ela. E ri. Não há venda em meus olhos. Pena que não reparastes! Poupei meu tempo. Poupei teu tempo. Não agradece-me?
Tão ingrato permanece! O tempo não muda-te. O tempo é uma ilusão. A mudança tua também o é.
E as vozes tornaram a falar. E pressagiei o silêncio. E veio a tempestade. Silêncio e vozes. Silêncio. E vozes.
Com o Corvo aprendi o "Nunca mais". E nunca mais me esquecerei desta lição. Só as paredes contemplarão minha loucura agora. E as palavras, entenda-nas quem puder. Entenda-nas se quiser. Mas é certo que não deixarei marca alguma amargar meu espírito.
Chama tua pele pelo meu nome? Perdoe-me, mas meu espírito só se saciará agora com aquele que diz "devora-me".
Porque as feridas ainda estão expostas. Mas toque nelas e irá se arrepender.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Dizem as vozes

E foi inesperadamente que a paz perdi. Eu procurava as palavras, mas estas fugiam-me. Busquei alívio em versos, poemas, prosas, sentenças... Em livros e mais livros escondi-me. Entretanto, em nenhum deles morava a minha paz.
E a vida fez-se fria e vazia. E o tom que nunca possuí,perdi-o. E o mundo não deixou de mover-se. A banda não parou. O Universo, em momento algum, se calou.
Então, as palavras perderam seus significados. Ficaram todos dispersos, suspensos no ar. A significância dos vocábulos partiu para um mundo essencial.
E para completar-se plenamente a inquietude interior minha, as palavras continuaram por aí, a circular libertas, travessas, a resvalar das montanhas e das línguas, a causar grande confusão pois, afinal, de que serve-me palavras que nada querem dizer?
E tudo no mundo perdeu o sentido. Virtudes e vícios, como distingui-los? E o bem? E o mal? Qual a diferença entre o útil e o fútil? O que é racional e o que desconhece completamente a razão?
Mas foi então que notei que o demônio em mim sorria ledamente e abençoava o caos. Foi assim que percebi que é só no desconcerto das ideias, na fragmentação das palavras e no completo desarranjo de sentimentos e significados que o meu mundo faz sentido. É na falência dos amores, nos conceitos desfeitos e nas imagens rarefeitas e incompreensíveis que minha mente trabalha e meus sentidos despertam.
E a paz? A paz? Quem disse que é paz o que hoje eu quero?