sexta-feira, 22 de maio de 2015

Sobre tragédias e projeções

Quando o teu silêncio violenta-me, lembro-me daquela outra história que deveria estar enterrada. A tragédia foi a busca por uma narrativa que não era a nossa. Eu amei teus entremeios, amei teus dias feios. Amei-te quando o teu corpo era enseada e as minhas pernas eram o mar a te envolver. Eu, que sempre fui mais Odisseu, converti-me em Penélope para que pudesses acompanhar os meus passos. Agora, presa nessa história que não é a minha, sendo dublê dessa mulher que só existe na tua imaginação, passo de personagem à expectadora enquanto o teu silêncio narra o fim dessa tragicomédia. Outra adaptação é feita da exposição dos nossos velhos defeitos, mas a face exposta na tela não é a minha. Nossos erros de continuidade sempre tão risíveis continuam a contar sobre o tempo apagado das nossas memórias. Tecer e destecer. Tecer e destecer. O tear silencia e dá voz aos personagens que o filme nunca mostrou. Os fios se prendem aos meus dedos inábeis enquanto os créditos são exibidos na tela. Eu buscava uma história que merecesse ser contada, que precisasse ser narrada. Como nunca encontrei tal história, falo sobre essa que deveria ser esquecida.

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