domingo, 28 de dezembro de 2014

Selva morta

Algumas partes tuas eram partes minhas. Era o quase fim do mundo que passou por cima dos nossos corpos e nos devorou. Eram os desertos dos teus lábios quando a realidade era escondida. Era a minha pele misturada a tua sem que soubéssemos se éramos recomeço ou término de história. O punhal que estava ao alcance das nossas mãos, a oferta que recebemos dos deuses, foi levado pela última nuvem de corvos que passou. As nossas faces rasgadas perderam o azul melancólico do outono. Perdemos o chão. Só que nem tudo era ermo naquela história mentida aos inocentes cadernos entregues ao fogo. Não era tudo ermo. Ermas eram as tuas vontades, tuas metades, inexatidões de carácter. Ermos eram os meus medos, meus segredos, entremeios. Algumas partes minhas eram partes tuas. Era a indecisão entre o passado e o teu olhar de selva morta presente.

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