sexta-feira, 22 de março de 2013

Sutiã na cabeça

Era terça-feira torta como toda terça-feira torta logo após segunda-feira insana. Acordei. Abri os olhos. Uma borboleta do tamanho de uma vaca estava entalada na minha janela. Abri os olhos. Ainda estava lá. A vil criatura olhava-me com seus enormes olhos famintos. Olhei a porta. Num pulo pus-me para fora da cama. Fugi do quarto. Corri para a cozinha a pensar que meu mal fosse talvez falta de café. Para meu espanto, um dragão chinês cozinhava e, muito educadamente, convidou-me para sentar e apreciar a nova receita de bananas flambadas com canela que criara. Apesar do susto, comi. A cara era muito boa e adoro tudo que leva canela. Depois de comer, calculei que um banho de água fria resolveria o meu caso. Ledo engano! No banheiro encontrei cinco anões azuis tocando rock com seus cavaquinhos."Ó, Zeus, esta casa está amaldiçoada", pensei. O jeito foi correr à rua para respirar ar puro. Péssima decisão! Em frente a minha casa ocorria uma parada de cachorros falantes com plumas de ganso a sair-lhes pelas orelhas. "Só tem uma solução", pensei. "Vou à delegacia. Lá algo devem fazer." Ideia ruim, ideia sem jeito! Encontrei policiais vestidos de Village People cantando fado, enquanto Leonardo da Vinci tatuava Monalisa na sua nádega esquerda. "Não há jeito. Preciso de um médico!". Tomei um táxi para o hospital. Um macaco cor-de-rosa guiava o carro, mas o que é uma cerveja pra quem já está completamente ébrio? "Um médico, por favor! Um médico!", gritei hospital adentro. Caetano Veloso atendeu-me com um uniforme de enfermeira dos anos 50 e confesso que achei que lhe caiu até muito bem. "Preciso de um psiquiatra", disse-lhe. Em poucos minutos estava eu diante de uma orquídea com um lindo vestido amarelo e sorriso branco que perguntava-me: "Que houve, minha querida?" "Acho que enlouqueci. Estou a ver coisas que não podem existir." "E quem diz o que pode ou não existir? Isto e caso de poesia, minha filha." Voltei para casa querendo minha mãe, minha cama e fazer manha. Que dia mais insano! Que terça mais maluca! Mas que é que é insano, afinal? Deixa o caos reinar que isto é casa de escritora.

Um comentário:

  1. Deixe que as quimeras do mundo onírico invadam um pouco a sua realidade insana! Belíssimo texto, escritora Ágata! ^^

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