quarta-feira, 13 de março de 2013

Precipício

Estes silêncios insondáveis são teu vício. Meu precipício. Penduro minhas asas à janela e caminho para fora do paraíso. Tuas palavras são só resquícios de mil conversas inventadas. Conversas entardecidas. A lua minguou, meu bem. Os cigarros voltaram para a mesa e esperança retornou à gaveta. A memória da pele tem sangue nas mãos. A memória dos sentidos repeliu as tuas palavras. A memória dos encontros esqueceu-se do teu calor. “Pula”, dizem as vozes e permaneço com meus pés presos ao chão. Ó, céus, por que reinvento-te toda vez que morre um pedaço meu? Nunca fomos mais do que histórias antigas recontadas. Rememorar-te é minha covardia cotidiana. A lua é só um arco no céu. Estou só. O silêncio comeu todos os meus afetos. Minhas páginas estão a apagar-se. Reinventemos o dia já que a noite escura nunca finda. Minhas palavras derramadas combinam com teu signo indecifrável. A minha fonte é seca. Minhas raízes estão fracas. Minhas folhas estão a cair. O precipício grita o meu nome. Falta tanto tempo para a lua cheia! Meu tronco já não pode resistir. Estou tão cansada de coleccionar descaminhos! Só as palavras fazem meu coração palpitar. Amo-te porque és a minha mais bela reinvenção. Meu copo de veneno. A lua guia meus passos ao precipício. E precipito-me em teu silêncio inventado.

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