domingo, 3 de fevereiro de 2013

Ruínas

Quanto tempo faz que nosso tempo se desfaz? Os tempos não voltam jamais. Não foram sete tempos e meio como na profecia, mas também estamos em ruínas. Nossas muralhas fortificadas são hoje só pó da grande civilização que fomos. O Livro Sagrado não conta a nossa história. Não fomos heróis. Deixamos o amor morrer. Fugimos da guerra por medo da morte e veja só, meu bem, morremos. A culpa foi mais minha que tua. Preferi ver-te transformado em covarde do que queimado em praça pública. E a vergonha fez com que fugisses de mim. A vida é uma faca de dois gumes. Agora sou só algumas pedras, resquício da muralha que um dia fui. Vejo homens subirem em minhas costas e narrarem as histórias que desconhecem sobre nós. Não estamos no Livro Sagrado. Não fomos perversos. Mesmo quando tentamos ser maus, algum amor nos salvou da perdição. E a todos os nossos pecados pagamos. Eu senti o calor da fogueira até virar cinzas. Hoje o céu está cinza. Tudo está cinza. O Livro Sagrado esqueceu-se de nós. Não somos santos. Das nossas mãos ainda goteja o sangue dos inocentes que cruzaram o nosso caminho. Todo mundo é culpado. Todo mundo é inocente. O tempo revela as nossas culpas. O tempo perdoa nossas falhas. Não temos mais tempo. O fogo volta a consumir nossas arruinadas fortificações. Desafiamos aos deuses e eles nunca nos perdoaram. Não perdoarão.

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