quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Dia e noite

Dia e noite. Somos dia e noite, meu antigo delírio. Teus olhos carregam a cor dos dias claros de sol. Tu és sol. Eu sou a noite. Sou o anoitecer. Em meus olhos só podes ver o escuro de uma noite tempestuosa. Sou tempestade. Só sei ser tempestade. Tua calma diurna me desconcerta. Desalinha-me. Enlouquece-me. És sol, meu bem. És sol. E és capaz de iluminar o mais apagado dos corações. Mas não quero que a tua luz acabe com o meu enoitecer. Se eu não mais noite for, dia por certo não serei. Que serei então? Uma tarde? Ou madrugada? Não posso, não quero. Não podes amar-me noite, compreendo. Só nasço quando tu já morres. E tu ressurges quando tenho que desaparecer. Mas sejamos justos, meu sol. Jamais me teria querido se eu fosse dia como tu és. O Sol só desejou a Lua porque não a poderia possuir. Nem tu, nem outro qualquer. Noites não podem ser possuídas, não aceitam ser postas em aquários. Noites não são peças decorativas de uma estante. Noites são amantes da Saudade. Noites são fragmentos de Sonhos Antigos dispersos, perdidos, encontrados, desalinhados. Noite é tudo o que não és, belo dia. Noite não tem medo como o dia tem da escuridão da noite. Tu fizeste-te sol por medo do escuro. Fiz-me lua para seguir mesmo sem ver o caminho onde piso. Não tenho medo. Não mais. Depois que o dia se foi voltei a ter paz.

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