sábado, 15 de setembro de 2012

Livro esquecido

Éramos uma narração sem enredo. Meros personagens sem papel. Éramos o lapso d'algum autor sem inspiração. Rascunhos fragmentários duma imaginação obsoleta. E vi do outro lado do caderno, na outra página, os olhos teus perdidos nos meus. E quis-te. E por querer-te, inventei as partes não escritas. Não sei se nosso autor de fato quis que fôssemos mais do que personagens dispersos. Sei que juntos criamos e recriamos páginas de mundos imaginários. Juntos demos ao nosso autor um final. Final? Quem o escreve, afinal? Escreveste-me mais do que uma vez. Escrevi tuas linhas também. Escrevemo-nos sempre que pensamos que já não existimos. Escrevemo-nos sempre que erigimos muros em nosso entorno. Escrevo amor e aventura. Escreves paciência e acolhimento. Escrevi um mar entre nós. Escreveste o medo do meu afeto. Algumas vezes escrevemos até personagens secundários. Mas sempre escrevo que não esqueço-te. E sempre escrevo-te para que não esqueça-me. Sempre antagonizamo-nos Sempre somos os nossos protagonistas. Para sempre presos aos nossos papéis neste livro dum autor desconhecido.

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