quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Um violino em Madrid

Cá estou sentada à escadaria da Catedral de Nuestra Senhora da la Almudena. Um homem toca violino. Perco-me. Sempre perco-me. Em lugares, em palavras, em pessoas. Perco-me em olhares e em silêncios. E em violinos.Cá estive no sábado. Lembro-me de estar triste e pesada e de sair capaz de voar novamente. Gosto do som do violino. Gosto do som das moeda serem depositadas na caixa do violino. Gosto de ver toda essa vida ao meu redor. Casais apaixonados beijam-se, tocam-se. Pais afetuosos conversam e brincam com seus filhos. Amigos olham-se nos olhos enquanto trocam ideias. Pessoas vão. Outras pessoas vem. O violino não se cala. Nem a vida. E cá continuo a esperar. Não sei o quê. Não sei porquê. Não quero ir. O violino analgesia-me. E o tango que agora soa faz-me viajar. Imagino um homem alto e de pele morena aproximar-se de mim e, com um simples gesto, convidar-me para dançar. E num instante, sinto-me solta nas constelações. E agora saem do violino as notas de "Con te partiro". Mas eu parti sozinha. Sempre sozinha. Sempre sozinha? De onde vem esse medo? Do que tanto tenho medo? O que dói eu não sei. Só sei que dói incessantemente. Mesmo acompanhada, estou sempre só. E afinal, quem nunca abandonou por medo de abandono? Partir. É, faz sentido. Quem não parte-se ao partir? São tantas partidas que acumulo em vinte e dois anos que chego a perguntar-me: o que resta de mim? Que parte minha pertence-me? Um pai pega sua filha e carrega-no colo. Que saudades dos tempos em que eu tinha direito a receber colo! Saudades de sentir-me abrigada e protegida pelo simples fato de ter braços ao redor. Agora o violino incessante acaba de vez comigo. No ar propaga-se uma canção medieval que lembra-me infância, desejos secretos e amores perdidos. Amor perdido. Amor nunca encontrado. A hora da partida está a aproximar-se. Eu não quero partir. E se eu tocasse violino? Saberia falar o que sinto através de notas já que com palavras parece que nunca irei sabê-lo? Passa um casal. Ela sorri e fixa seu olhar nele. A mão, ao lado dele, parece inquieta. Ele sorri, diz algo e abaixa os olhos. E continuam a caminhar lado a lado. Nenhum toque. Nenhuma aproximação. A cena contrasta com a música romântica. A cena contrasta com a Espanha romântica qu conheci nos últimos dias. Parto. Parto-me novamente. E deixo parte parte de mim com estes quatro amigos que sorriem e abraçam-se livres de preconceitos bobos. E outra parte com este violino de Madrid.

2 comentários:

  1. SOS da dor é o poder que a escrita tem sobre os doloridos. Lindo o teu saber!!!

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  2. E pergunto-me: a que abandonou-se o homem do violino?

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