segunda-feira, 23 de abril de 2012

Memórias imaginadas

Essa estória não é sobre você. E nem sobre eu. Essa estória é sobre nós dois. E é sobre nossas vidas imaginárias. É sobre o afeto que um dia logramos ter. Sobre as mentiras veranis. Essa estória é sobre estradas perdidas que se cruzam no entardecer das vontades. É a estória do medo. Era o medo o que nos unia. Medo de nada. Medo do nada. Medo de tudo de repente, ser nada. Medo das nossas invenções. Foi o medo o que nos separou. Não era preciso muito. Não era. Só era preciso o mundo.E o mundo era tão grande! E o mundo ficou muito pequeno. E fui imaginando outros mundos. Criando nomes e conceitos, frases e feitos, almas e pecados.E tu fostes também imaginando mil palavras e empregos destas. Inventastes sóis e luas, animais e plantas, florestas e mares. E inventou-me. Mas de repente, as tuas metades se espalharam pelo sofá e ao recolhê-las, percebi que não valiam uma única palavra do jardim morto. Pois tantos sonhos se perderam naquela estrada densa! E o medo aventureiro teimava em perseguir-nos. E a imagem do paraíso voltou a infernizar-nos. E novamente, fez-se entre nós um vazio completamente cheio de nada. E ao fecharmos nossos olhos ainda sentíamos o calor dos nossos abraços desfeitos. Sentíamos o calor que nunca existiu. E eu não pude salvar-te de ti. E tu não pudestes salvar-me de mim. E perdemo-nos. E o nosso livro ficou pela metade. Eu sou um livro. Não sou teu livro. Não quisestes escrever em mim a tua estória. Não sou um livro. Eu sou teu livro. Foi tu quem inventastes-me. Somos um livro de memórias imaginadas.

2 comentários:

  1. Impressionante como você escreve profundamente mas o tom nunca deixa de ser singelo... Isso é arte, isso dá gosto de ler!!!! Parabéns!

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