quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Diário da Lusitânia: de como caí de paraquédas na terra de Camões

Meu querido leitor deve estar a perguntar-se:"que faz esta cronista louca em Portugal?" Pois bem, já explico-me. Certo dia, entre minhas correrias desesperadas diárias na busca alucinada por dar conta de aulas mil, monitoria de Matrizes Clássicas e minicurso de Literatura Medieval (Sem falar em pesquisas para trabalhos alheios, culpa da minha cara de panaca e incapacidade para dizer não.), recebo um telefonema de minha mãe (Na verdade, não foi tão simples como fiz parecer: ela ligou-me umas trinta vezes, mandou-me umas cinquenta mensagens de texto e ainda uns vinte, vinte e cinco sinais de fumaça.)dizendo-me que haviam me ligado da faculdade e que eu deveria ir à secretaria com urgência. Pensei:"ferrou!Que fiz desta vez?" Brincadeira, imaginei que fosse algum documento faltante (Acho incrível a quantidade de documentos que despejamos na universidade!Sinceramente, até hoje não sei para que serve muita coisa que na secretaria deixei, aliás, pergunto-me se na secretaria sabem para que serve...Se bem que, dada a quantidade de maconheiros de plantão, deveria-se pedir também exames de urina...). Quando cheguei à secretaria (e aí deve imaginar meu amigo leitor que minhas dúvidas foram sanadas), pediram-me para deixar meu nome, telefone e email. "Hã?!? Como assim? Para quê?" Uma amiga menos desavisada disse-me que era para estudar em Coimbra. Pensei: "Beleza! Deve rolar alguma prova e tal, mas tranquilo!, é só estudar."
Desde uma aula de Matrizes Clássicas Romanas que tive no meu primeiro semestre na faculdade,fixei como alvo a Universidade de Coimbra. Pode parecer bobo, mas foi por causa de um livro de literatura clássica latina cuja editora era a U.C.. Um brasão tão bonito! Eu simplesmente precisava saber mais. Dei uma pesquisada básica em São Google e, depois de muito fuxicar,decidi que seria nesta universidade que eu faria meu mestrado em Literatura Portuguesa. Já tinha tudo planejado e, para manter meu propósito vivo, baixei uma imagem do brasão e pus no meu Livro dos Desejos( que é história para uma outra crônica, num outro dia...). Tivemos uma entrevista que consistiu basicamente na seguinte pergunta: "vocês querem estudar em Coimbra?" (E aquela vontade imensa de dizer: "Hello, o que estou fazendo aqui? Pensa que não tenho nada a fazer? Estou matando uma aula muito importante para ouvir uma perguntinha dessas?". Mas respirei fundo,abri o meu maior e mais belo sorriso e disse:"Claro!").
Mas passaram-se dias, semanas e meses. Silêncio. Um amigo e eu passávamos sempre pela secretaria para perguntar as novidades, se já havia alguma resposta e nada. Estava já a ver o dia que poriam nossas respectivas fotos no mural com uma inscrição: "Todos são bem vindos excetuando essas pessoas."
Entretanto, a vida corria normalmente. Continuei a trabalhar no meu projeto de monitoria (A pretensão era fazer um puta artigo com direito à poesia clássica,modernista, Semiótica e estética da intensidade.), dar umas paqueradas (Que não deram em nada, que conste nos autos. Mas tentei,já vale,né?), conhecer gente nova, redecorar meu quarto...enfim, tudo que se faz normalmente para manter a permanência em terra firme interessante (ou ao menos tolerável).
Então,num belo dia de vagabundagem (férias de julho), recebo um email avisando que havia sido aceita e precisava resolver tudo: passaporte(Claro que eu não tinha um!Nunca havia visto mais gordo!Os lugares mais distantes que eu costumava ir era à São Paulo ou Minas Gerais, para casa de parente...), visto e essas porras todas que a gente adora ter que resolver num país com tão pouca burocracia como o nosso! Meu caro leitor,foi tenso! Muito frenesi, idas ao consulado, polícia federal, polícia civil, médico, agências de viagem...uma verdadeira odisseia.(Não que meu diário percurso Japeri-Niterói-Japeri já não fosse coisa de Ulisses...)Eu não tinha noção da capacidade humana em estressar-se e causar estresse! Aprendi tudo neste período! Ainda tive tempo para cineminha com paixões platônicas nunca correspondidas, choppadas com amigos, visita à faculdade (para visitar amigos e professores...Mentira! Era para ver um "amigo" que nunca passou de amigo por não entender ou fingir não entender minhas sutis insinuações...)...
Mas vamos lá, despedi-me de meus amigos de pelos, minha mama querida(e sua comidinha maravilhosa!), meu irmãozinho e melhor amigo, meu quarto fofo,meus amigos, minha manicure perfeita,minha universidade,meus amados professores(juro que é verdade!), minha vida...Parti para o desconhecido, de peito aberto, pronta para me aventurar, navegar por outros mares, caminhar por novas terras,ver, sentir, ouvir, provar, cheirar coisas diferentes(Pelo amor de Deus,não estou falando de drogas!)... E acá estou,como dizem os lusitanos, há dois meses nas terras de Camões. E que dois meses!Mas isto é assunto para outra crónica. É tarde,preciso dormir pois amanhã tenho um encontro com Padre Antonio Vieira...

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